segunda-feira, maio 16, 2011

Como Davi para Michelangelo

Eu escrevo há um bom tempo, e até confesso que não tenho como explicar exatamente o motivo. É uma necessidade, pior que um vício. Se passo um tempo sem escrever um poema, fico incomodado, preciso rabiscar alguma coisa no papel ou no editor de textos (ultimamente produzo mais direto no computador que em papel).

Enfim, eu já falei uma vez que não sou eu que escrevo, são outros e outros, trens passando, centenas... Leminski já chamava o poeta de "antena da raça", ou seja: aquele que capta algo no ar e transmite aos demais. E voltando ao começo: escrever para mim é uma necessidade. Mas às vezes essa necessidade retribui com um prêmio. O poema abaixo para mim é o que considero uma pequena obra prima. Podem até impactar menos que outros que aqui coloquei. Mas eles para mim mostram uma construção precisa, um processo delicado de produção poética. Espero que gostem.



O CRIADOR


Estes versos, antes, tinham uma rima,
arranquei-a como uma verruga que incomoda.


Eles soavam como música, extraí a harmonia,
coloquei um monte de coisa estranha e até mesmo trechos
inteiros sem sentido e que voam sobre a cabeça de elefantes.


Tinham um trecho inteiro sobre amor e fé, removi,
como se tira dente de puta em bordel vagabundo, ou mesmo a vida
em guerras inúteis por pedaços vagabundos de chão.


Por fim, tinham um final melódico razoável, que não gostei
e deixei assim mesmo.



Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Café uma hora dessa?

Putz, acabaram com todo o café na cantina :(. 


SÁBADO


Quando nasci, o mundo estava puro e vazio.
Criei borboletas para poder arrancar suas asas,
árvores pequenas para desfolhá-las.


Mais tarde, o mundo ainda estava puro, mas não vazio.
Criei rios para poder secá-los
e estrelas para poder vê-las queimar.


Quando enjoei, o mundo ainda continuava puro,
Então criei homens e mulheres
só para apreciá-los a sofrer.



Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Uma xícara cheia por favor

São quase 9 horas da noite, acho que preciso de mais um café.


LÉPTONS E LÉPTONS DE QUALQUER LUGAR


Corra, depressa como um raio e agora aqui e ali,
já estou ligado como um furacão, consumo o mundo
em doses cavalares, em pó e líquido, me arrefeço,
arremeto-me contra paredes de almas e mentes
em desespero, impacientes pelo futuro, impacientes
pelo mundo que corre, depressa como um raio, e agora
eu me vejo ali na frente, ali atrás, já passou, tudo rápido,
luz em mim e adiante, lua em ti e agora mesmo,
correndo depressa, como o mundo que nos cerca e nos
devora, como o mundo que é devorado continuamente,
dia após dia, furacões e mundos e almas e mentes,
o desespero e a esperança na sala de estar, esperando
pacientemente que você corra, depressa como um raio
agora e para todo o sempre, a menos que você corra
e encontre o futuro, correndo, a encontrar você.




Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

domingo, maio 15, 2011

Manual falso de construção do poema

O outono seria lindo, não fosse o outono.


TANGRAM


Virou de lado, avesso,
o nada entre mim, você,
o mundo em pedaços.


Peça por pecado, montando,
de novo um erro, falta,
enquadrado em como se foi.


Pontas em círculos, toques,
encontros e vazios,
tudo a construir.




Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

O Tao da Tal da Física

Um poema para um dia que amanheceu nublado:


LÉPTONS E LÉPTONS DE QUALQUER LUGAR


Corra, depressa como um raio e agora aqui e ali,
já estou ligado como um furacão, consumo o mundo
em doses cavalares, em pó e líquido, me arrefeço,
arremeto-me contra paredes de almas e mentes
em desespero, impacientes pelo futuro, impacientes
pelo mundo que corre, depressa como um raio, e agora
eu me vejo ali na frente, ali atrás, já passou, tudo rápido,
luz em mim e adiante, lua em ti e agora mesmo,
correndo depressa, como o mundo que nos cerca e nos
devora, como o mundo que é devorado continuamente,
dia após dia, furacões e mundos e almas e mentes,
o desespero e a esperança na sala de estar, esperando
pacientemente que você corra, depressa como um raio
agora e para todo o sempre, a menos que você corra
e encontre o futuro, correndo, a encontrar você.




Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

quarta-feira, maio 04, 2011

A saideira, garçom

O último do dia, recomenda-se vinho tinto seco ao lê-lo:


PEÇA POR PEÇA


Vem, me diga de novo que minha alma não me pertence,
sou seu escravo, agora e até para sempre,
em que enfim despeje toda minha ira
dentro de seu corpo.


E vem de novo, tira toda sua pele em cima de meu corpo,
mostre-me o teu interior, tua alma em chamas,
o calor que irá consumir aos poucos,
me jogar fora de mim.


E se por acaso, cansares um pouco, abre os lábios
e arreganha o olho, receba com carinho
todo essa fúria que entrego,
jatos, gotas e suor.


Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Três poemas incomodam muito mais

E mais um poema, ... 


NOVECENTOS

Eu procuro a nota perfeita em solidões contínuas,
ritmos
e solfejos,
perfeitos como uma mente em branco,
o vazio me preenche.

Deveras, tudo evapora em sons e ruídos,
cabeças
sem pensares,
ninguém aqui agora, sairam todos,
eu não existo, apenas suspiro.


Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Um verso e outro, um outro e um verso

Mais um poema,  ...


CÚMULO NUVEM


Abriu demais e foi embora, sombras
passeiam, encobrem minha mente com ilusões
sobre mundos e arco-íris de pleno paraíso,
mas inundam minha alma com raios e trovões,
um aguaceiro de demônios e anjos caídos.



Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Filosofia de gibi

Um poema para pensar e remoer sobre o que é a verdade.



VIDRAÇA

O mundo só existe em minha alma,
nada fora que já não tivesse sido pensado
e projetado em comédia para Platão.

Mesmo que eu limpe por completo,
álcool puro e delicada microfibra,
é o mundo de minha vida e a mim apenas pertence,
bateu com o nariz, doeu a testa,
entendes que afinal não tens acesso?

O mundo na verdade é como televisão,
minha alma te mostra, janela
do que escolho para tua apreciação,
até que poeiras me quebrem por completo,
os cacos a cortar a mão de toda a gente,
sangue pela sala e pelo jardim,
gente demais aqui dentro e ao redor.




Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.