sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Um poema de Rimbaud

Um poema de Artur Rimbaud para inspirar a sexta-feira, extraído da parte inicial do clássico "Uma estação no inferno":

Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual todos os corações exultavam, no qual corriam todos os vinhos.

Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. - E achei-a amarga. - E injuriei-a.

Armei-me contra a justiça.

Fugi. Ó feiticeiras. ó miséria, ó ódio, a vós é que foi confiado o meu tesouro!

Tudo fiz para que se desvanecesse em meu espírito a esperança humana. Como um animal feroz, investi cegamente contra a alegria para estrangulá-la.

Conjurei os verdugos para morder, na minha agonia, a culatra de seus fuzis. Conjurei as pragas, para afogar-me na areia, no sangue. Fiz da desgraça a minha divindade. Refocilei na lama. Enxuguei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura.
E a primavera trouxe-me o horrível gargalhar do idiota. Ora, por último, chegando a ponto de quase fazer o trejeito final, sonhei encontrar a chave do festim antigo, no qual talvez recobraria o apetite.

A caridade é essa chave. - Esta inspiração prova que tenho sonhado!

"Sempre serás hiena, etc..." exclama o demônio que me coroou de tão amáveis papoulas. "Vence a morte com todos os teus apetites, com todo o teu egoísmo e todos os pecados capitais".

Ah! estou farto de tudo isso: - Mas, querido Satã, eu te conjuro a que não me fites com pupila tão irritada! e à espera das pequenas covardias atrasadas, para vós outros que admirais no escritor a ausência das faculdades descritivas ou pedagógicas, para vós arranco algumas hediondas páginas do meu caderno decondenado.

Não sei de quem essa tradução, existem pelo menos mais duas traduções desse texto para o Português. O texto integral de Uma Temporada no Inferno nessa tradução anônima pode ser encontrada no Scribd ou no Domínio Público. Está esperando o que para ler o texto integral?

Ah, sim!!! Se você souber quem é o responsável pela tradução, informe para que eu possa informar os créditos aqui.

Um poema amanhecido

Esse foi escrito ontem à tardezinha:


VISÃO SOB OS MONTES

Cai muita água por aqui agora, como dentro do peito
jorra um sentimento asfixiante
que sobe à garganta.

Pois que mesmo plantas que precisam de água,
pois que mesmo o solo seco que precisa do orvalho,
mesmo assim,
aperta.

E cai muita água, lágrimas de uma nuvem parda,
um céu em pequenos pedaços de agonia,
e o frio brando dessas gotas.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

E mais um poema

Esse foi começado anteontem e terminado ontem (estão pensando que escrever poesia é coisa instantânea???):


SUOR

Respira a pele sob fardos mantos, calor
insuportável no âmago.

Ferve a mente em delírios, viagens ao centro,
retorna à pele em forma de água e sal.

A roupa, molhada, como a alma em rios de lágrimas,
temporais e trovões vindos do peito.

Em que nada refresque desgostos e tristezas.

Poema fresquinho

Esse aqui é de anteontem:


NEBLINA

Uma mente sem medo é um monte de alegorias
para um trem passando em cima de vontades.

A vida em controle,
remontando aos poucos,
voando, para dentro
cada vez mais.

Uma mente sem medo é uma nuvem de lembranças
tristes e cheias de pó vermelho e seco.

A morte em remoto,
controlando em muito,
planando, para fora,
de menos a menos.


Uma mente sem medo é uma coisa de dar medo
em folhas soltas sobre o chão.

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Um outro poema

Esse é do final do ano passado, novembro:


CONTIGO

Sua vez, jogue, não posso esperar tanto,
uma vez mais o céu não parece com nada dantes,
nada depois.

Jogue.

Minha vez, seu tempo acabou, não posso esperar tanto,
uma vez mais o céu é como sempre foi, será,
nada antes.

Jogue.

Nossa vez, nosso tempo acabou, finito jogo,
sem céu para nenhum de nós dois por todo o tempo
que foi e será.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Um poema acadêmico

Escrevi este poema em setembro do ano passado, quando da entrega da versão final da tese.


A PROPÓSITO DE ECO

Eis o porco: ele está morto e temperado,
assado foi em vários espetos,
e agora espera o seu apetite.

Mas o porco não termina em si, existem outros porcos
que nasceram de sua semente suína
e esperam o dia de suas próprias fogueiras.